As Crônicas de Neville [Aventura]
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As Crônicas de Neville [Aventura]
Título: As Crônicas de Neville
Ano: 2010 - ? [em publicação]
Autor: J.A. Palma
Gênero: Aventura; Comédia
Classificação: Livre
Sinopse: Neville Oliver é um garoto comum. Mas a descoberta de uma antiguidade acaba revolucionando sua vida. Um diário parece fazer com que o dono entre numa aventura atrás da outra, com perigos jamais vistos e muitos mistérios. E nessas aventuras ele conhece Jacques, um garoto francês que, depois de um tempo acaba se tornando seu melhor amigo. Que mistérios irão rondar a vida deste jovem tão inexperiênte? Saiba tudo isso lendo a história.
As Crônicas de Neville
Primeira Temporada
Episódio 1: O presente misterioso
- Spoiler:
- Olá, eu sou Neville Oliver. Mas você deve estar se perguntando, porque estou aqui perdendo meu tempo lendo a história de alguém que nem conheço? Bom, minha história é um tanto conturbada. Alguns dizem que é engraçada. É claro engraçada para as outras pessoas.
Bom esse era meu passado. Mas depois de um acontecimento extraordinário, minha vida mudou para sempre. Faz três anos que eu tenho um diário. É! Isso mesmo! Um garoto com um diário! Vai encarar?
Era uma manhã agradável naquele dia. O sol não estava tão quente, era sábado e não tinha colégio. Nada poderia estragar meu dia tranqüilo...
-Neville! Levante-se agora, vamos ao supermercado! - berrou a minha mãe da cozinha.
Humpf! Aquilo seria massacrante. Uma manhã inteira com minha mãe no supermercado era uma manhã jogada fora. Calma, eu não tenho nada contra sair com a minha mãe. Só que um supermercado no sábado de manhã não era meu programa preferido.
Lentamente, muito lentamente eu sai da cama contra minha vontade. Vesti meu jeans e camiseta comum do dia-a-dia e desci a escada até o hall de entrada.
-Neville querido! Tome seu café logo, eu não quero pegar fila no estacionamento.
-Tá mãe, já to indo.
A mesa nem estava tão farta como antigamente. Desde que meu pai perdera o emprego Wallden Bank, o banco mais famoso de Londres, nós estávamos vivendo com o salário da minha mãe.
Eva Oliver, minha mãe, era professora do primário na Escola Secundária WestWood. Em casa viviamos em quatro pessoas: eu, minha mãe, meu pai Arthur Oliver e minha irmã Sara. Mas apesar de todos os apertos, minha família permanecia unida.
E naquela manhã de sábado, minha vida mudaria para sempre.
Nós consumíamos no O'pus Market, um mega supermercado perto de nossa casa. Tinha de tudo lá, desde alimentos até carros importados.
-Neville querido, não se esqueça de pegar algo pra sua irmã, é o aniversário de 14 anos dela amanhã!
-Pode deixar mãe, vou comprar algo bem interessante pra ela.
Eu e minha irmã tínhamos uma relação de irmãos muito comum. Nós nos odiávamos. E dar presentes ridículos de aniversário a ela era minha especialidade. Ano passado, dei a ela um sapo envernizado. E procurava algo mais bizarro este ano.
Passando pelas barraquinhas de quinquilharias, encontrei no final da fileira, um barraco sujo e mal arrumado, esquecido por todos no lugar. Sentado em um banquinho estava um homem velho e de aparência desleixada. Me aproximei dele, pensando em algo para puxar assunto.
-Er... com licença Senhor... bom dia?
O velho homem olhou para mim com uma cara indiferente e depois disso voltou a fixar o olhar no chão.
-Estou procurando...
-Não vai encontrar nada do que procuras em minha loja.
Olhei fixamente para ele, incrédulo. O homem provavelmente devia seu um daqueles bruxos ou coisa assim. Aquela conversa estava me deixando intrigado, mas eu não iria sair dali sem um presente esquisitão pra minha adorada irmã.
-Não importa, quero a pior coisa que o Senhor tiver ai.
O homem se levantou e aproximou-se tanto do meu rosto que achei que iria ganhar um beijo. Então ele abriu um sorriso amarelo, revelando alguns dentes podres.
-Você me parece um jovem determinado. Eu vou te ajudar.
-Ótimo! O que você...
-Mas tem uma condição. - disse ele me interrompendo. -Tem que levar algo para você também.
-Hum, acho que só o presente dela...
-Dois ou nenhum. - disse ele com firmeza.
Eu poderia ter saído e procurado em outra barraca, mas algo naquele lugar me prendia.
-Tudo bem. O que o Senhor tem ai?
O homem remexeu um estranho baú atrás de velhos panos vermelhos e voltou trazendo uma caixa de madeira lascada e uma espécie de livro.
-Esta caixa é para sua irmã.
-O que tem ai?
-Ossos de cabra pintados.
-Legal. E esse livro ai?
Os olhos do homem emitiram um brilho anormal e ele voltara a sorrir.
-Este é um presente meu pra você. - disse ele me entregando o estranho livro amarrotado e semi-rasgado em algumas partes.
-E o que eu vou fazer com esse livro velho?
-Oh! Ele não é um livro. É um diário.
-Hunpf! E o que o senhor espera que eu faça com um diário?
-Você vai pensar bem diferente, quando voltar aqui amanhã para devolvê-lo.
Eu não entendia nada daquilo. Segurava o diário com capa de couro marrom desbotado nas mãos sem saber do destino dele. E que história era aquela de querer devolver amanhã?
-Mas lembre-se, uma vez que você começar a conversar com ele, não deve parar até chegar ao fim.
Dei a ele algumas moedas pela caixa, agradeci pelo diário e saí rapidinho de lá. Aquele velhote com certeza era maluco.
A noite, depois do jantar, entreguei meu presente antecipadamente para Sara, que se irritou como sempre e saiu correndo atrás de mim com a vassoura.
Depois que os ânimos se acalmaram, me recolhi para meu quarto. Sentado na escrivaninha, examinava o diário surrado. Na contra-capa, tinha uma lista enorme de nomes dos antigos donos do diário. Mas achei engraçado, porque não havia nada escrito no diário.
Então, depois de ter assistido muito Harry Potter e a Câmara Secreta com minha irmã, decidi fazer um teste. Peguei uma caneta e escrevi meu nome na primeira folha. Nada.
-Bela tentativa, velhote.
Fiquei irritado e resolvi escrever um recado para o homem da barraca:
“Sua tentativa ridícula de me impressionar só me fez acreditar que o Senhor é louco. Se eu ver mais alguém usando qualquer coisa da sua loja, vou recomendar que queime.”
Então algo interessante aconteceu. Quando eu ia fechar o diário, alguma coisa se mecheu no papel.
Pouco a pouco, palavras escritas com uma caligrafia fina e bem feita iam surgindo logo abaixo da minha mensagem.
“Quanta hostilidade, garoto. Você não respeita os mais velhos?”
Olhei incrédulo para aquelas palavras. Logo abaixo dessa mensagem, outras palavras vinham surgindo, de diferentes caligrafias.
“Esse deve ser novato”
“Imagine, quanta audácia!”
“Deixem ele comigo, eu cuidarei da sua educação”
“Calma pessoal, vão assustar o garoto. Ei rapaz, porque você escreveu aquilo, acabou insultando muita gente.”
E essa agora. O diário estava falando comigo, igual ao filme. Mas parecia que tinha mais de uma pessoa “presa” naquele diário.
Rapidamente peguei a caneta e escrevi.
“Quem são vocês? O que fazem nesse diário? Vocês estão presas? Como vocês sabem que sou um garoto?”
Esperei um pouco e logo novas palavras foram surgindo na altura da metade da folha.
“Você faz perguntas demais. Mas tudo bem. Nós somos cada uma das pessoas que já possuíram este diário. E sabemos que você é um garoto porque sentimos sua caligrafia e o peso do seu punho quando você escreve.”
Li cada palavra o mais rápido que conseguia. Meu coração parecia querer explodir.
“Mas como vocês foram parar ai?”
“Logo você vai descobrir. Assim que se juntar a nós...”
Nem acabei de ler. Fechei o diário, amarrei-o com um cadarço de um tênis velho e soquei dentro do guarda-roupas.
Aquilo era apenas um sonho. Se eu deitasse e fechasse os olhos, amanhã nada daquilo teria acontecido.
E perdido nesse pensamento, adormeci, sem a consciência do que me esperaria no dia seguinte.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 2: A história do homem solitário
- Spoiler:
- Acredito que devo ter passado a pior noite da minha vida naquele dia. Tive um sonho esquisito, com pessoas estranhas correndo atrás de mim, querendo comer meu cérebro.
Por volta das cinco da manhã, acordei. Os lençóis estavam revirados, e eu suava muito. Lentamente, me sentei na cama e começei a ordenar os pensamentos. Uma onda gelada começou a percorrer meu corpo na medida que eu lembrava daquele diário estranho.
Todo trêmolo e desconfiado, caminhei até o guarda-roupas para confirmar se aquilo vivido na noite anterior também não fora apenas um sonho.
Abri a porta de madeira e... lá estava ele. O pequeno caderninho com capa de couro marrom desbotado, amarrado com meu cadarço velho. Olhando atentamente para ele, eu sabia o que devia fazer. Peguei o diário, joquei dentro da muchila e saí para o supermercado.
Me convencer de que aquele velho estranho estava certo não foi o pior. Quando eu cheguei no supermercado foi que a pior coisa aconteceu.
-Onde aquele velho foi?!
A barraca dele havia sumido. Desesperadamente eu corri até o posto de informações, perto da saída mais próxima.
-Com licença, moça, onde foi aquele senhor daquela barraquinha estranha, que ficava ali no cantinho? - perguntei apontando para o lado extremo do salão.
A moça me olhou de um modo esquisito, e depois me respondeu com seriedade.
-Escute, garoto, não tinha ninguém ali. Aliás, aquela vaga não é ocupada à meses por nenhuma barraca.
Minhas pernas tremeram e eu quase cai. Cada palavra daquela soou ridiculamente insano.
-Mas moça, ontem eu peguei este diário com ele...
Eu enfiei a mão na mochila, mas o diário não estava lá. Revirei cada centímetro, mas o diário havia sumido.
-Não o está encontrando? - disse a moça com voz de deboche. -Melhor você ir para casa, os efeitos do seu remédio para esquisofrenia devem estar perdendo o efeito.
Olhei feio para ela, fiz um gesto não muito elegante e sai de volta pra casa.
Mas que diabos estava acontecendo? Eu estava ficando louco? Aquilo tudo era culpa daquele velho com seu diário maldito.
Cheguei em casa, corri para o quarto. Lá estava ele. Em cima da minha mesa de estudos, onde tudo começou. Eu tinha certeza que havia colocado ele dentro da mochila. Mas parece que ele resolvera ficar. Pois bem. Eu iria me vingar e acabar de vez com aquilo.
Peguei o diário, com cadarço e tudo, joguei na lata de lixo e ateei fogo! Eu via cada centímetro pegar fogo com uma satisfação imensa. Parecia até algo diabólico. Em poucos minutos, tudo o que sobrara foram cinzas. Peguei o cesto, e fui até o banheiro, me livrar das cinzas, jogando no vaso sanitário. Dei a descarga e vi as manchas cinzentas desaparecerem na água.
-Tchauzinho!
Voltei para o quarto. Então, algo fez minhas pernas tremerem novamente e deixar o cesto de lixo cair no chão. O diário estava são e salvo, sem nenhuma queimadura e sequinho em cima da mesa.
-Droga de livro maldito! Vou me livrar de você nem seja a última coisa que eu faça!
Coitadinho de mim! Você não sente pena? Mal sabia eu que nada iria adiantar. E como eu já disse isso pra você agora, vamos pular pra parte mais interessante. Todo esse blá blá blá cansa, não é mesmo? Pode ficar tranqüilo, a história vai ficar legal a partir de agora.
Um tanto cansado, depois de ter tentado umas mil coisas pra me livrar daquele diário infernal, resolvi fazer o que parecia mais óbvio e mais insano. Abri o diário. Centenas de frases estavam escritas na próxima página, e na próxima e assim até atingir seis folhas.
Era frases do tipo: “Canalha! Espere só eu por as mãos em você! Tentando nos matar? Nem conseguiu, seu tosco!”
Peguei a caneta e comecei a escrever, tão rápido que nem eu mesmo conseguia entender algumas palavras.
“Quero saber porque o velho idiota que me deu isto, desapareceu!”
Todas as outras frases desapareceram do nada, ficando apenas a minha. Então, a caligrafia da última pessoa que falara comigo na noite anterior voltara a escrever.
“Acho que começamos com o pé errado ontem, meu jovem. Permita me apresentar, sou Jacques Nuvou.”
“Eu não quero saber seu nome, eu quero me livrar disto!”
“Eu já disse, você não pode se livrar dele. O diário é quem escolhe quem pode sair.”
“Ninguém manda nas minhas escolhas!”
“Você perdeu o controle, quando aceitou este presente. Problema seu se você não quer aceitar. Agora quando você baixar a bola, parar de dizer besteiras e me ouvir, quem sabe você pode ter uma chance!”
Eu olhei para aquela frase e ri meio sem jeito. Eu tava tomando um toco de um diário mágico. Será que eu realmente estava doido? Quem dera pudesse ser só loucura.
Peguei a caneta e recomecei a escrever.
“Eu só fiquei nervoso, só isso.”
Depois de uns segundos as palavras começavam a surgir.
“Tudo bem, acho que todo mundo surta na primeira vez. Qual seu nome?”
“Neville. Neville Oliver.”
“Muito bem Neville. Você está disposto a me ouvir agora?”
“Sim”
Houve uma pequena pausa e então as palavras surgiram do nada.
“Este é o Diário da Correlação. Ele foi criado em 1830 por Peter Frodwanken, um médico alemão. Eu não conheço muito a história, apenas o que me contaram. Parece que Peter começou a surtar e todos os amigos e familiares se afartaram dele. Ele ficou sozinho. Então, para passar o tempo, ele escrevia num diário. Esse diário, para ser mais exato. Mas como ninguém respondia, ele ficou mais louco ainda e um certo dia, entregou o diário à uma feiticeira local, que o impregnou com uma maldição. Todos que tocassem no diário, teriam suas almas presas nele, até que o dono do diário não se sentisse mais solitário.”
“Quer dizer então que você também está preso?” Há quanto tempo?”
“Acho que uns dez dias.”
“Mas então não faz sentido. Se a sua alma está presa ai, como você pode falar comigo?”
“Essa é a parte interessante. Depois que ele morreu, a feiticeira modificou a maldição e multiplicou o número de diários. Existem, ao todo, dezesseis diários iguais a este em todo mundo. Todas as pessoas que falam com você, estão vivas, em diferentes lugares do mundo.”
“Mas e as outras pessoas, que eu vi numa lista na primeira página?”
“Bom, elas estão... mortas.”
“Mortas? Mas porque? Eu vou morrer também?”
“Acalme-se. Como eu já disse, estes diários foram amaldiçoados. A pessoa só tem a alma de volta quando o diário achar que você já o entreteu o suficiente. Essas pessoas, bom, digamos que elas não eram muito sociáveis.”
“Mas como ele sabe da nossa existência?”
“Ele está presente em todos os diários, observando cada um, o que faz. Ele nos observa agora.”
“Caramba, eu continuo sem entender muita coisa.”
“Não se preocupe. Você vai entender muita coisa logo logo. Mas por agora, vocÊ deve fechar este diário e guardá-lo num lugar seguro. Ninguém deve saber dele, nem mesmo a pessoa que vai entrar no seu quarto agora.”
Bam!
A porta do meu quarto abriu fazendo um estrondo. Sara, a pirralha da minha irmã me olhava furiosamente.
-Neville, seu imprestável, se você me der mais um presente desses, vou fazer a mamãe te deixar de castigo pro resto da vida!
E com outra batida da porta, ela saiu.
Me virei pra olhar para o diário, mas ele havia sumido outra vez.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 3: A primeira História - Parte I
- Spoiler:
- Estava indo para a terceira noite sem dormir. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser aquele diário estranho. Até então, não o tinha aberto mais, nem escrito qualquer coisa nele. O máximo que fazia era ficar observando-o dentro de uma mala, no fundo do guarda-roupa.
Mas em fim, aquilo seria parte de mim agora. Não havia mais possibilidades de se livrar dele, como comprovei dias atrás.
Naquela noite eu resolvi encará-lo. Sim, decidi em abrir o diário sempre à noite, para não ser interrompido por ninguém.
Quando toquei na superfície rígida e fria daquele “monstro” senti um frio percorrer meu corpo. De uma só vez abri o diário.
Aparentemente, tudo normal. Nenhuma frase fora escrita enquanto o diário esteve fechado. Peguei uma caneta e começei a escrever.
“Jacques? Você está ai?”
Um tempo depois veio a resposta.
“Sim. É você Neville?”
“Sim sou eu. Como essa coisa funciona?”
Passaram-se uns minutos e nada da próxima frase surgir. Pensei que talvez ele não soubesse a resposta, mas depois disso, as primeiras palavras foram surgindo. Mas não era a caligrafia dele.
“Bem vindo caro amigo, ao triste mundo da solidão eterna do Diário da Correlação. Aqui tristeza não tem perdão. E nada de ódio no coração. Por tempos e tempos iremos brincar, se divertir e se aventurar. E mesmo quando cansado estiver, aqui terá que ficar, assim completando nossa jornada rumo ao desconhecido.”
Lia e relia aquela frase várias vezes, mas não entendia nada. Já tinha pegado a caneta para perguntar, quando a caligrafia de Jacques voltara ao papel.
“Esta é a apresentação do diário. Eu mesmo não entendia, mas alguém me explicou depois.”
“É eu continuo sem entender. Você pode me explicar?”
“De tempos em tempos, este diário escolhe uma história descrita por Peter, lembra, o dono do diário? Pois bem. Quando a história é escolhida, os personagens, no caso nós, somos convocados para participar e terminar a história.”
“Cara, quanto mais você fala, menos eu entendo. Como eu vou saber que estou sendo convocado? E como participamos da história?”
“Com o tempo você pega o jeito. Mas resumindo, você vai sentir que está sendo convocado (de que forma eu não sei), e você participa, escrevendo e vivendo a história.”
“Ainda não estou entendendo. Cara acho isso uma loucura.”
“Todos acham. Bom, parece que você vai aprender na prática. Acabei de receber uma convocação. E quem vai conduzir a história é a Menba, uma garota da África. Prepare-se amigo, vamos começar...”
As palavras tinham desaparecido. O que será que ele queria dizer com aquilo?
Então a resposta veio rapidamente. As folhas do diário se moveram rapidamente até pararem numa página em branco. Surgiram algumas palavras no topo da página, com uma letra diferente e com ar feminino.
“A floresta negra – por Menba Hoshik”
Quando acabei de ler, senti uma coisa estranha e anormal. Um vento incomum inundou o quarto, revirando todas as coisas, me empurrando com sua força. O diário se iluminou e de seu brilho saltaram correntes de luz coloridas, que circularam meu corpo por alguns segundos. Senti um calor percorrer todo meu corpo e então uma fisgada me projetou para frente, como se eu fosse voar. E voei. Para dentro daquele livro maldito.
Não conseguia respirar direito nem ver onde estava indo. Ou melhor, caindo. Uma mescla de cores passavam muito rápido por mim, impedindo a percepção de qualquer coisa.
Logo eu pude avistar uma manha negra, que ia aumentando de tamanho rapidamente.
-Essa não, eu vou me chocar com aquilo?
A mancha ia crescendo. Fechei os olhos para não ver.
Bum!
Nunca senti tanta dor. O baque foi forte e intenso, mas eu não tinha morrido. Lentamente me levantei e limpei a poeira das vestes.
-Carambola, e essa agora.
Meu corpo doía muito e não sabia onde estava. Agora que aparentemente estava no chão, pude compreender o ambiente. Parecia uma floresta, com árvores muito grandes e o céu estava escuro.
De repente eu ouvi um grito e do meio das árvores surgiu uma moça de pele morena correndo assustada.
-Corra seu miserável! Corra pela sua vida! - berrou ela ao passar por mim.
Eu não tinha entendido nada até ver porque ela corria. Um elefante gigante, com a cara mais demoníaca que eu já tinha visto na vida veio derrubando tudo pelo caminho, em minha direção.
Começei a correr, as pernas ainda doloridas com a queda. O elefante vinha se aproximando, bufando desenfreado. Tentei forçar a velocidade, mas minhas pernas cederam e eu cai.
-Ai! Vai ser meu fim agora! Omelete humana!
Fechei os olhos. Não teria coragem de ver a morte chegando. As passadas do elefante vinham vibrando o chão, me fazendo pular contra minha vontade. Então abri os olhos no momento em que a pata do tamanho de um carro descia sobre meu corpo. Era o meu fim...
Será que Neville vai sobreviver? Onde será que ele está agora? Que surpresas ainda estão por vir?
Não perca o próximo episódio de As Crônicas de Neville!
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 4: A primeira História - Parte II
- Spoiler:
- Olhando aquela pata monstruosa se aproximando, a única coisa que me restava era gritar. E acho que aquele grito fez alguma coisa mágica, porque no momento exato, alguma coisa me puxou para o lado e não fui esmagado.
-A-ah? O q-q-que aconteceu? - perguntei pra mim mesmo, observando o céu, meio distorcido pela poeira.
-Eu acabarr de salvarr sua vida. - disse uma voz com sotaque francês.
Virei a cabeça e vi. Um par de olhos azuis atrás de um óculos de aros pretos meio retorcidos. Eles me observavam atentamente, não demonstrando qualquer emoção ou vontade.
-Quem é você? - perguntei me levantando e batendo a roupa.
Os olhos também subiram e revelaram uma silhueta magricela e meio coberta de terra. Ele tinha a mesma altura que eu. Sim. Era um garoto.
-Obr-rigado, seria melhorr resposta, non? - disse ele.
-Ah, me desculpe. Ainda estou meio perdido. - respondi sem graça.
Ele nada disse, apenas continuou me olhando.
-Eu sou Jacques Nuvou. - disse ele sério.
-J-jacques?! Sou eu, Neville!
-Hum, eu devia imaginar. Caindo e ficando par-rado daquele jeito, só podia serr um novato como você.
-Hei, qual é! Eu acabei de cair de lá de cima e tomar um susto com aquele bicho enorme.
Por alguns instantes, ficamos apenas encarando um ao outro.
-Então, como eu saio daqui? - perguntei observando o local.
-Eu já disse. Non tem como sairr até a história ter-rminar. - respondeu Jacques. - Venha comigo.
-P-pra onde?
-Apenas venha... ou fica ai e morra.
Palavras animadoras. Mas como tudo aquilo era loucura, fiz o menos óbvio possível, afinal não faria diferença alguma. Segui ele.
A floresta densa e cheia de troncos quebrados parecia assustadora. E por mais que eu quisesse pensar que aquilo tudo era um sonho e que mais cedo ou mais tarde eu ia acordar, meu corpo todo ainda doía, o que me remetia para uma realidade impossível.
-Quem era aquela garota?
Jacques ponderou por um tempo antes de responder.
-Aquela ser-r Menba Hoshik.
-Hum eu me lembro desse nome... sim foi a última coisa que eu vi antes de aparecer aqui.
-Sim. Ela ser-r a pessoa quem conduz essa história.
-Ela conduz? Como assim? Ela pode fazer o que quiser?
-Sim... pode-se de tudo aqui.
-Mas então porque ela simplesmente não termina a história logo?
-Non non... isso seria fácil demais... além de deixar-r Ele desgostoso.
-Ele? Quem é “Ele”?
-Peter... non consegue nem se lembrar-r disso?
Olhei com severidade pra ele. Afinal, aquilo tudo era informação demais pra um simples garoto que descobriu tudo isso de uma vez.
Quando eu já ia dizer que a floresta parecia não ter mais fim, ele aparecera de repente.
Uma área enorme, parecida com um deserto de areia branca surgiu em nossa frente. E no meio dela, uma pirâmide brilhava de uma forma sinistra.
-Ah! Não me diga?! Múmias? Teremos múmias nessa história?
-Você per-rgunta pra mim? Como vou saber-r?
-Caraca! Você tem um mal humor insuportável, hã?!
-Hum, agora sim você estar entendendo!
Caminhamos em silêncio até a pirâmide, sem olhar um na cara do outro. A princípio eu achava o Jacques legal, mas ele estava sendo extremamente chato. E eu não gostava de pessoas chatas. Aliás, ainda continuo não gostando.
Quando chegamos na entrada da pirâmide, eu percebi uma coisa estranha. Perto da saída da floresta, numa dobra de árvores que não tínhamos visto, brilhava timidamente uma luz verde.
-Err, Jacques, o que é aquela luz verde? - disse apontando para ela.
Aquilo pareceu preocupá-lo, porque ele arregalou os olhos fazendo uma cara de espanto.
-Ha... non ser-r nada! Continue andando!
Bom, aquilo tudo era estranho... mas não questionei. Poderia ser só mais um enfeite daquele lugar pavoroso.
O interior da pirâmide era sem dúvida singular. Parecia mais o interior de um castelo, do que de uma pirâmide. De longe se ouvia tintilar de metais se chocando.
Nos aproximamos do som. Atrás de uma porta dourada, havia uma espécie de arena, onde uma garota lutava contra doze homens ao mesmo tempo.
-Minha nossa! Vamos ajudá-la!
-Non! Você non deve interferir.
-Mas por quê? Ela precisa de ajuda!
-Nai! Como você é insistente! Esta ser-r uma história solo. Só um personagem par-rticipa.
-E porque diabos estamos aqui então?
-Eu non sei. Talvez Ele queria que víssemos alguma coisa.
Os dois se espantaram quando ela derrubou dois caras com um único chute. E mais ainda quando ela deu três pulos no ar e caiu por cima de outro três.
-Uh! Ela é boa! - disse observando ela terminar o serviço.
-Hahahaha! Nunca diga isso a ela. - advertiu ele.
-Porquê? É só um simples elogio. - disse caminhando na direção dela. -Oi! Eu tava te vendo.
Ela, que deixava a arena em direção aonde estávamos me encarou com um olhar estranho.
-É-éé, v-você é muito boa...
Nem tive tempo de terminar. E Jacques estava certo. Ela gritou e veio pra cima de mim, me derrubando com apenas um movimento. Então ela ajoelhou por cima do meu peito, provocando muita dor.
-Eu não sou boa! EU SOU ÓTIMA!
-Ah-h-ha, t-tá legal... ta d-doendo!
-Humpf!
Ela se levantou e saiu, dando as costas pra gente. Enquanto eu me recuperava, Jacques tentou fazer uma social com ela.
-Menba. Foi uma ótima performance.
-Obrigada, Jack. - disse ela com um sorriso. -Quem é o novato?
-Esse ai? Hahahaha, é o Neville.
-O carinha nervoso? Hahaha, só podia ser mesmo. Ele veio com você?
-Sim. Você precisava ver. O elefante quase o esmagou.
-Jack, você é muito mole. Devia ter deixado virar omelete.
Eu, que nessa altura já estava ficando irritado com tudo aquilo, resolvi intervir.
-Ei ei ei! Vamos parar com esse clubinho ai?! Hã?! Eu estou aqui, lembra?
-Ai ai, começou a atacação. - disse Jacques.
-E desde quando você fala sem sotaque? E esse apelido, Jack?
-Neville, Menba não gosta de franceses, e meu sotaque deixava ela nervosa. Então eu aprendi a falar assim. Mas quando não estou com ela, me sinto melhor falando com sotaque. E o apelido, bom, cada um me chama do jeito que quiser...
Então tudo ficou silêncio. As cores do lugar desapareceram e tudo começara a girar. Minha cabeça doeu muito e fiquei tonto. Só consegui ver rapidamente tudo se desfazer em fumaça e raios brancos antes de apagar.
Quando acordei, estava caído no chão do meu quarto. Estava de volta. Levantei depressa e corri até o diário, que ainda estava aberto. Agarrei a primeira caneta que vi na frente e comecei a escrever.
-Jacques! JACQUES! VOCÊ ESTÁ AI? O QUE ACONTECEU?!
E depois de muitos segundos, veio a resposta.
“Amanhã. Neville. Amanhã conversamos...”
E depois disso, só silêncio.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 5: O monstro do Himalaia - Parte I
- Spoiler:
- Acordei cedo demais no dia seguinte. E isso já era de se esperar. Qualquer um que do nada vive uma aventura inexplicável teria a mente cheia de caraminholas. Mas eu também não podia me comportar como uma criança. Então, esperei angustiantes trinta minutos na cama, esperando o relógio marcar sete horas.
Os últimos dias tinham sido intensos e, pra não dizer o contrário, incríveis. E pensar que tudo aquilo estava acontecendo por causa de um diário...
O relógio fez um barulho conhecido, revelando que o esperado horário havia chegado. Eu me virei rapidamente e levantei. Depois ergui o colchão e, de dentro de um buraco na espuma tirei o diário. Pelo menos ali eu tinha certeza de que ninguém ia mexer.
Calmamente, pra não fazer nenhum barulho, me sentei na mesinha e abri o diário. As habituais páginas em branco continuavam ali. Mas eu sabia como ativar a “magia” dele.
A caneta deslizava em minha mão, à medida que cada palavra ia se formando. Hoje eu saberia as respostas das perguntas que tanto borbulhavam na minha cabeça.
Mas parecia que não havia alguém “online” no diário. Tudo bem, eu usei a palavra “online” porque não sei qual usar... se você souber, me avisa. Até hoje ainda não sei.
Enfim, continuei escrevendo e nada de vir resposta. Será que era mesmo um sonho afinal?
Nem tive tempo de refletir no assunto. O que era estranho, porque sempre que eu parava pra pensar em algo, ficava horas martelando na idéia. Mas dessa vez, minha mãe interveio, e não tive como escapar.
-Neville, querido? Já está acordado?
[Bocejo falso]
-A-ah, sim mamãe. - Menti descaradamente. - Acabei de acordar.
-Ótimo, você ter que se arrumar e terminar de limpar o jardim. E não esqueça que tem que levar a Sara pra pegar doces pelo bairro.
-Hã? Como assim?
-Hoje é véspera do dia das bruxas, lembra?
“O quê?” Pensei comigo mesmo. “Dia das bruxas? Impossível, estamos no mês de... de... outubro?! Não pode ser!”
Pois é.
Minha pequena aventura no meio daquela selva durou nada menos que 5 meses. E o pior é que parecia que nada tinha acontecido nesse tempo. Será que ninguém notou que eu estava fora? Eu estava ficando cada vez mais confuso.
Corri para fazer todas as minhas tarefas do dia de forma ultra rápida, e assim tentar mais um contato no diário.
Acho que nunca subi as escadas tão rápido. Cheguei no quarto e me atirei na cadeira. Mas quando abri o diário, algo já havia acontecido.
Escrito no canto da primeira página, um monte de palavras com a caligrafia de Jacques esperava pra ser lida.
“Neville. Me encontre no parque no fim da sua rua. Leve uma blusa. Jacques.”
Jacques estava aqui? Em Londres? Nem pensei duas vezes. Saí correndo escada a baixo, tomando cuidado pra não ser visto saindo pela porta da frente. E também não tinha prestado atenção no aviso. Mal sabia eu que me arrependeria depois.
Minha rua era pequena. Tinha uns três quarteirões de comprimento. Todas as casinhas eram praticamente iguais, mudando apenas em algum detalhe.
No final da rua Magnólia, havia um parquinho. Na verdade parecia mais um parque florestal, porque era sem dúvida a área mais arborizada do bairro. Mas nem por isso as crianças deixavam de se divertir. Haviam balanços, escorregas, banco de areia e mais umas coisas que não lembro o nome agora.
Andei rapidamente pela calçada em direção ao parque. Não poderia correr ou levantaria suspeita. Quando cheguei na esquina, lá estava ele. Sentado num balanço olhando para o chão.
Ele não devia ter notado quando me aproximei, porque continuou olhando para o chão. Me sentei no balanço vazio ao lado.
-Jacque?!
-Neville. - respondeu ele olhando para o chão, como se não tivesse prestando atenção.
-Ah, como você chegou aqui?
Ele levantou a cabeça e olhou pra mim, como se eu tivesse feito uma pergunta idiota. Bom, na verdade eu tinha feito, só não sabia disso ainda.
-Pelo diário.
Olhei incrédulo. Seria verdade? Só se isso significasse outra coisa.
-P-podemos usar o diário mesmo fora de uma históra?!
Então eu confirmei o que não queria confirmar.
-Como assim? Nós estamos numa história.
-Hã?! Como pode?! Eu estava dormindo e acordei normalmente em casa!
-Você entrou na história quando estava dormindo.
E essa agora. Mais um pouco e eu ficaria louco pra sempre. Tudo aquilo era demais pra mim. Com certeza era um pesadelo, e eu iria acordar logo logo.
-Tudo bem, isso não está acontecendo. Vou pra casa dormir a acordar com a minha vida normal.
-Você trouxe a blusa que eu falei? - perguntou Jacques sem dar a mínima para o que eu dizia.
-Blusa?! Pra que?
-Você está surdo? Nós estamos numa história! E vamos para o Himalaia agora.
-Hahahaha! Você é maluco. Himalaia fica a quilômetros daqui...
Parei de falar na hora. Uma onda de frio invadiu o local. Começei a soltar fumaça da boca, tamanho o frio. A paisagem começara a mudar. O céu azul e limpo foi se tornando branco e cinzento. O chão gramado foi cristalizando e endurecendo. Um vento gélido vinha de encontro. Tudo mudava rapidamente. E em instantes, o parque da rua Magnólia se transformou numa montanha nevada.
-E-e-e-eu n-n-não a-a-acredito! - disse tremendo de frio.
-Eu avisei pra trazer uma blusa.
-D-d-desse j-je-jeito e-eu v-vou morrer de frio!
-Pare de reclamar. Toma. - disse ele me dando um moleton esverdeado. -Eu sabia que você não ia trazer.
Coloquei aquela blusa como se fosse minha última esperança de vida. E como mágica, o frio cessou. Se fosse em outra situação, eu até ficaria me perguntando porque apenas uma blusa foi suficiente para um frio de -13ºC. Mas depois de ter passado por tudo aquilo, não me impressionava mais com tanta facilidade.
-Vamos entrar naquela caverna, e esperar pelos outros. - disse ele apontando para um buraco no gelo, perto de onde estávamos.
Dentro da caverna não tinha vento, então não precisávamos gritar um para o outro poder ouvir.
-Porque estamos aqui, afinal?
-Porque eu sempre quis conhecer o Himalaia. - disse ele batento a neve da roupa.
-Então essa história é sua?!
-Sim.
Tive vontade de matá-lo.
-Me tira de casa, pra magicamente voltar pra uma história doida, cheia de perigos e no meio da neve?
-Você não tem escolha, lembra?
-Pensasse em um lugar mais “humano”, pelo menos. Não tem neve onde você mora?
-Isso é diferente.
-Claro, eu, que odeio neve, estou aqui, perdido no meio de uma nevasca.
-Que criança irritante.
-E você é muito mais velho que eu, por acaso?
-Não vou discutir com você, Neville. Estou acima disso...
-Se você não usa-se esse óculos ridículos eu te socava agora mesmo.
-Ah, quer brigar então? - disse ele se levantando e me encarando.
[Bum!]
Um barulho de explosão fez o local estremecer. Saímos pra ver o que estava acontecendo, e o que tinha feito aquele barulho. Então, no topo da montanha um vulto branco e, sem dúvidas, enorme vinha descendo com velocidade.
-Mas o que?
-CORRE SEU IDIOTA! CORRE! - berrou Jacques correndo pela trilha sólida de gelo na abertura da caverna.
[Rugido]
Outra fera? Meu Deus! Dessa vez será que eu consigo sobreviver?! Mãe!!!!
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 6
O monstro do Himalaya Parte 2
O monstro do Himalaya Parte 2
- Spoiler:
- O que se pasava em minha mente era uma mescla de medo e raiva. Eu corria, o frio atravessando a espinha e gelando os neurônios, o gelo em baixo deixando o chão escorregadio demais.
Eu não me atrevia virar e olhar o que parecia nos perseguir, apenas olhava em frente, vento o vulto de Jacques sumir e re-aparecer em meio a nevasca.
Depois de corrermos o que imaginei serem alguns metros, ele indicou uma outra caverna mais ao leste de onde estávamos, e foi para lá que, cansados e ofegantes rumamos.
No interior, havia uma espécie de cratera mais a frente. Jacques se largou no chão, perto da entrada para vigiar onde estava a tal coisa que explodira a caverna anterior.
Me aproximei pra ver melhor. Havia um lago de um azul muito brilhante e cristalino. Era sem dúvida uma visão deslumbrante. Ia me aproximar mais quando Jacques me chamou.
-Neville, não vá muito longe. Podemos ter que correr e sair daqui também.
-Ah, claro. Já descobriu o que está la fora?
-Descobrir? Eu sempre soube.
Olhei pra ele com uma cara de morte. Ele sabia o tempo todo e não me disse nada? E por alguns segundos houve silêncio.
-E então, não vai me dizer o que é? - perguntei com raiva.
-Você não tinha me perguntado o que era ainda. - respondeu ele ironicamente.
-Olha, você tá me provocando! Eu vou ai e soco essa sua cara míope!
-Já disse pra você vir. Não tenho medo de você!
Meu sangue ferveu. Eu queria bater nele. Desferir toda a minha raiva. Toda a ira de ter recebido esse maldito diário e toda essa loucura que acontece com ele.
Mas então eu percebi algo que me deixou intrigado e fez a raiva desaparecer. Jacques estava chorando.
O ambiente era escuro e ameaçador. Uma atmosfera de medo era constante. O silêncio era absoluto.
“O que é essa coisa que estou sentindo? Porque dói tanto? Quem está invadindo o meu mundo? Esse nome... Neville... porque não me sai da cabeça? Preciso conhecê-lo.”
Seus olhos estavam brilhando pelas lágrimas que escorriam. O que era aquilo? Lentamente fui me aproximando dele, até me abaixar e sentar ao seu lado.
-Cara, me desculpe. Eu não quis ofender.
Ele virou o rosto pra esconder as lágrimas. O que deixava aquilo ainda mais desconcertante.
-Você lembra muito o meu irmão, Neville. - disse ele choroso. - Sinto muita saudade dele.
-Bom, assim que a história terminar, você pode vê-lo.
Minhas palavras pareceram causar mais tristeza ainda. Ele abaixou a cabeça, deixando as lágrimas caírem na neve do chão.
-N-não é tão simples assim, Neville.
-Porque? Ele não mora com a sua família?
-Eu... eu não sei.
-Cara, eu não estou entendendo. Você não... não mora com a sua família?
Seus olhos fixaram o chão em busca de uma resposta. Aquela situação estava ficando tensa demais. Eu nunca havia tido um tipo de conversa assim. Por isso achava que estava sendo demasiadamente indelicado.
-Neville... eu morri à dezesseis anos.
Um frio, mais intenso que o do local percorreu meu corpo. Morto?
-M-morto? C-como assim?
-Há dezesseis anos, eu morri durante uma história. E por causa disso, fiquei preso aqui dentro.
-V-você está dizendo que...
-Sim Neville. Eu tenho vinte e oito anos. Eu tinha doze quando encontrei o diário. E na quinta história, eu morri.
E mais essa agora. Além de sentir dor, frio, passar por apuros ainda é possível morrer de verdade nesse maldito diário? Era só o que faltava.
-E desde que você...
-Morri.
-... não voltou mais pra casa?
-Não. Minha vida se resume às pessoas que eu encontro aqui.
Milhões de coisas começaram a borbulhar em minha mente. Então, quando achei que ia surtar, pensando que aquilo poderia acontecer comigo, vi o olhar dolorido nos olhos dele. Eu aqui me lamentando e ele não podendo voltar pra casa nunca mais.
-Jacques... não vai vir mais ninguém, não é?
Ele balançou a cabeça negativamente, enxugou o rosto na manga e continuou olhando para o chão.
-Mas alguém sabe disso?
-Só você, Neville. Não me pergunte porque. Eu nem queria dizer isso. Você me irrita.
Apesar de esperar sentir raiva, eu apenas sorri. Sentia uma mescla de pena e tristeza por ele, mas também aquela situação era um tanto engraçada.
-Jacques... Jack. Se quiser pode ficar na minha casa.
Ele sorriu também. Eu podia sentir que era uma reação que ele já esperava. Depois ele sacudiu a cabeça novamente afastando o sorriso.
-Já disse, que não posso sair desse diário, a não ser que for em uma história.
O chão começou a tremer. Jack olhou absorto para o teto, vendo os pedaços de rocha se desprenderem.
-Droga! temos que sair daqui...
[Graourrrrrrrrrr!]
Uma boca enorme e cheia de dentes pontiagudos surgiu na entrada da caverna, rugindo muito alto e exalando um cheiro de sangue e esgoto.
-Ahhhhhhhhhh! - ai ai gritei que nem uma menina...
Então ele começou a dar socos na abertura, tornando-a maior. Logo ele poderia se esgueirar e nos alcançar.
-Nevill! Por aqui! - berrou Jack do outro lado, na beira da cratera.
-O que pensa que está fazendo?
-Vamos ter que entrar, parece que tem luz do outro lado da cratera.
-Você ficou maluco?! Essa água deve estar congelante!
-Quer ficar ai com aquele monstro, vá em frente!
E dizendo isso, afundou na água. Rapidamente seu corpo desapareceu nas águas cristalinas. O braço do monstrengo entrou, fazendo a parede estourar. Num ímpeto, me joguei dentro do lago.
As águas pareciam ter vida, porque uma força me puxava cada vez mais pro fundo. Não sabia o quanto de ar ainda tinha. Em questão de segundos, o ambiente ficou escuro, e eu nada podia ver.
Silêncio. Senti o ar se esvaindo. Eu ia morrer? Seria trágico não? Depois de ouvir tudo aqui dele, eu morrer aqui seria apenas mais uma probabilidade. Mas então eu vi uma luz logo acima, e meu corpo foi projetado pra ele.
E como se tivesse acabado de nascer, respirei um fôlego de vida.
Estava quente. Quente demais. Abri os olhos. Estava caído no banco de areia do parquinho da rua Magnólia. Ao meu lado, o diário jazia esquecido, e dentro dele, um bilhete amassado.
A próxima história era minha.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 7 - Corações e Mentes
- Spoiler:
- Uma semana se passou desde a última aventura no diário da correlação. E por incrível que pareça, eu não estava nem um pouco tranquilo. Afinal além de ser minha primeira história, haviam muitas perguntas sem resposta. Haviam mistérios sem solução. E eu queria muito reviver essa emoção.
Aparentemente, todo o tempo que estive fora do “mundo comum”, as coisas aconteceram normalmente. E não adianta me perguntar como porque até hoje eu não sei. Logo logo vai entrar outro narrador, ai você pode perguntar para ele. Mas voltando ao assunto, na sexta feira eu estava decidido a fazer algo. Exatamente o que, eu não sabia.
Deitado na cama, encarando o teto branco e sem nada pra chamar a atenção, deixei minha mente vagar, para, quem sabe, conseguir uma idéia. Porém, a única coisa que surgia era a conversa que tive com Jack naquela caverna gelada.
E foi aí que eu percebi o que devia fazer.
No final da tarde eu já havia perdido as esperanças. Segundo o que Jack dizia, o usuário sentiria a hora em que deveria começar a história. Mas eu não estava sentindo absolutamente nada. E se até a hora do jantar essa tal sensação não tivesse chegado, eu seria obrigado a ouvir horas e horas de conversas chatas dos meus parentes, que viriam até aqui, pra um “eca-que-chato-jantar-em-família”. Pois é, minha vida não é fácil.
Lá pelas sete horas, a maioria dos parentes já havia chegado. Tio Beckster iniciou uma conversa chata sobre a política e como o prefeito interferia em seus negócios. Minha mãe e minha avó falavam de novas receitas, e minhas tias viciadas em cigarro relinchavam em gargalhadas do lado de fora da cozinha, envoltas numa nuvem de fumaça fétida.
Aquilo era demais pra mim. Não havia ninguém da minha idade. Minha única prima, Alana, estava em Paris, estudando num colégio caríssimo, segundo a tia Lorna. Eu mal falava com Alana, a não ser no natal, que era quando todos se reuniam sem excessões.
Alana Boughtrood era uma garota da minha idade. Pele branca, olhos verdes, cabelos louros e escorridos até o meio das costas. Usava óculos, o que julgava ser mal de família. Tinha um temperamento rebelde, mesquinho, egoísta e gostava de humilhar as pessoas com seu alto Q.I. Mas a única pessoa que a tirava do sério era... adivinha quem? Pois é. Ela me odeia.
Depois do jantar, meu pai e meu avô começaram uma longa conversa sobre como a vida era difícil antigamente. Então percebi que era hora de me retirar. Inventei para mamãe uma falsa dor de barriga, me despedi de todos e voltei para o quarto. Lá estava eu, novamente na cama, olhando para o nada. Rapidamente o sono foi chegando. Meus olhos fechando. E adormeci...
“Neville!”
Abri os olhos. Não havia ninguém. Pensei ser o aviso de que a hora da história chegara. E estava certo. O diário brilhava intensamente, esperando que a próxima loucura acontecesse.
Instintivamente abri. A página em branco exibia nomes para serem escolhidos como os “personagens”. Curiosamente, o meu já estava selecionado. Então marquei o nome de Jack... e também o de Memba, afinal, eu queria dizer à ela umas verdades.
Os nomes desapareceram, e a página ficou vazia, esperando minhas palavras. Eu não entendia bem como aquilo funcionava. E também eu era péssimo em redação. Então fechei os olhos, pensei na cena que queria e comecei a escrever. Quando cheguei na terceira linha, senti uma brisa fresca levantar meus cabelos. Abri os olhos e percebi que estava na frente de casa. Mais um teste. Fechei os olhos e imaginei outra cena. Uma onda de calor fez meu corpo suar rapidamente. Abri os olhos. Estava no meio do deserto. Afinal, estava entendendo como aquilo funcionava. Era hora de convocar meus companheiros.
Fechei os olhos e imaginei a minha rua novamente. E também imaginei Jack e Memba atravessando a rua em minha direção. Dito e feito. Lá vinham eles, com a mesma cara de nada.
-Você demorou demais, Neville. - disse ele irritado. -Achei que tivesse morrido.
-Animador como sempre. - respondi com um ar de superioriade forçada.
-Meninos, vamos logo com isso. Não quero perder a festa da minha prima amanhã.
-Não se preocupem. Acho que não vai demorar. - falei sem pensar.
-Como pode ter tanta certeza? - indagou Jack.
-Bem, eu fiquei esses dias todos pensando no que fazer, e afinal cheguei à resposta. Tomara que dê certo.
-Como assim “acho”?! - começou Memba. -Não estou gostando do rumo dessa conversa.
-Memba, relaxa. Essa história não terá nenhuma ação. E eu só trouxe você porque começamos com o pé esquerdo, queria me nós nos déssemos bem...
[Pof!]
O punho direito dela cravou fundo no meu rosto. Doeu demais, eu confesso. Pra ser sincero, dói até hoje. Tá, tá, exagerei, mas tudo bem.
-Hei hei porque me bateu?
-Você me tirou de casa... PRA CONVERSAR?! SEU... SEU... PALERMA!!
-C-calma Memba... relaxa...
-RELAXAR? VOCÊ É SENSACIONAL. IDIOTA!!
-Se já terminaram de discutir a relação, podemos começar logo isso? - indagou Jack.
-Desde que ele fique bem longe de mim, tudo bem.
Ainda massageando o rosto, me ajeitei, limpei as vestes e respirei fundo. Eu precisaria de muita concentração.
-Certo. Eu não estou bem certo disso, mas acredito que vá funcionar. Jack... - virei para encará-lo. -Tome isso como uma iniciativa de amizade, ok?
-Como assim?
-Não me interrompa! Apenas feche os olhos.
Ainda relutante e resmungando ele obedeceu. Então fechei meus olhos também e comecei a focar no que eu queria. Era difícil, porque eu não tinha uma imagem do lugar para onde ir. Apenas queria ir para lá.
A medida que os segundos iam passando, um cheiro de flores silvestres era notório no ar. Senti meus pés tocarem uma grama fofa. O clima era agradável. O vento suave banhava a pele com uma chuva de perfumes. Abri os olhos. Estávamos à frente de uma casinha verde. Em volta dela, um gramado aparado e convidativo para um pique-nique. E ao lado, uma enorme árvore, com flores róseas e brancas, de onde o perfume exalava. Era um bom lugar para se descansar.
-Onde nós estamos? - perguntou Memba.
-Bem, porque você não diz, Jack?
Ele abriu os olhos. Sua feição mudou repentinamente para espanto. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
-M-m-minha c-casa?!
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 8 - O leão, a cobra e o ratinho
- Spoiler:
- -M-inha c-casa?!
Olhei com uma cara boba e feliz ao mesmo tempo.
-Então eu acho que acertei, afinal!
-Como assim, “minha casa”? - indagou Memba surpresa.
-Esta é a casa do Jack. - respondi sem olhar para ela. - A história se passará aqui... se fizermos algo, é claro.
-Como assim, Neville, não entendi. - repetiu ela.
-Eu fiquei todo esse tempo me perguntando sobre o que fazer na minha primeira história. Então eu tive essa idéia. E – disse rapidamente ao ver a cara dela mudar de espanto para raiva – não me bata por isso. Eu tinha que fazer isso por ele.
-N-Neville... isso é mesmo real? - indagou Jack ainda olhando para os portões da casa.
-Sim, Jack. Eu fiz com que a história se passasse na sua casa. Agora você poderá rever sua família.
Os olhos dele se encheram de água. Mas eram lágrimas de alegria. Ele sonhara com isso desde que ficara preso no diário. E finalmente poderia realizar o sonho aparentemente impossível.
Se aquilo era normal ou não, não importava naquele momento. Jack escancarou o portão, correndo pelo estreito caminho de pedras brancas que levava à porta da frente. Como se fosse habitual, ele se abaixou e tateou algo em baixo do carpete de “Boas Vindas”.
-Ah! - exclamou ele retirando uma pequena chave prateada. -Eles ainda guardam a chave aqui.
Rapidamente ele girou a chave, fazendo um pequeno estalo. A porta foi se abrindo lentamente, rangendo na prega de cima. O interior revelou uma sala da mesma cor do exterior: verde. O chão era coberto por um assoalho de milhares de plaquinhas de madeira, justapostas e brilhantes.Ao fundo, do lado de um corredor havia uma escada que, teoricamente levava à um segundo andar. Um grande tapete vermelho no centro abrigava um jogo de sofás marrons. Logo a frente uma estante de mogno luzente, um aparador e uma cristaleira um tanto velha.
-Maman! Papa! C'est moi, Jacques!! - Mamãe! Papai! Sou eu, Jacques!! - disse ele entrando e olhando para todos os lados.
Ele continuou chamando pelo resto do primeiro andar, mas parecia que não havia ninguém na casa. E a casa não aparentava estar abandonada, muito pelo contrário. A limpeza estava impecável.
-Où êtes-vous? - Onde estão vocês? - insistia Neville, já mostrando um rosto aflito. -Droga, eles devem ter saído.
-Acalme-se, Neville. Vamos procurar lá em cima. - disse Memba dando um tapinha em seu ombro. Tenho absoluta certeza de vê-lo massageando o local depois. Aposto que ficou roxo.
A escada era coberta de carpete caramelo. O aspecto aveludado dava um ar aconchegante ao local. Ouvi Neville dizer algo como ''parecia andar em nuvens'' quando passamos pelo terceiro patamar.
O segundo andar era um tanto diferente do anterior. As paredes não eram verdes, mas sim claras, com cor de creme. Um outro corredor revelava quatro portas enfileiradas. Neville apontou a porta da extremidade direita como sendo o quarto dos pais. A porta da extrema esquerda o quarto de hóspedes a porta do meio um banheiro e a porta que dava de frente com a escada era o seu quarto.
-Tem certeza que quer entrar ai, Jack? - disse Memba.
-E porque não teria? - indagou ele atônito.
-Bem... você sumiu de casa a muito tempo... e... se esse não for mais o seu quarto? - disse em resposta.
-Só vou saber se entrar! - disse ele empurrando a porta do quarto.
A visão foi um tanto misteriosa. O quarto era ligeiramente pequeno. Havia um papel de parede vermelho e branco com bandeiras do Ballyclare Comrades F.C. No centro uma cama bem arrumada com lençóis brancos engomados. Uma escrivaninha ao canto e uma estante com alguns livros.
-Meu... quarto... continua o mesmo... daquele dia... - disse ele deixando uma lágrima cair.
Memba e eu entramos no quarto e o fizemos sentar na cama. Era muita coisa pra ele raciocinar. Afinal rever sua casa depois de tanto tempo era emoção demais. Deixei Memba sentada ao lado dele e fui andar pelo quarto. Logo ao lado da escrivaninha tinha uma janela redonda. A vista mostrava o jardim dos fundos. Não teria notado nada demais pela janela a não ser pela luz verde que eu havia visto no outro dia. Estava mais forte e brilhava intensamente. Um calafrio percorreu meu corpo, quando pensei ter ouvido uma voz chamar por meu nome. Queria perguntar de novo o que era, mas hesitei ao ver o modo como Jack estava.
Continuei andando pelo quarto, observando as coisas da estante. Havia um porta-retrato com uma foto de três pessoas. Jack estava no meio sorridente. Ao seu lado haviau ma mulher muito bonita de cabelos louros e esvoaçantes. Do outro lado um homem de meia idade, ligeiramente careca e de olhos muito azuis. Pela paisagem do fundo, parecia uma festa de aniversário.
-Minha última festa de aniversário. Tiramos pouco antes de eu abrir o pacote que tinha o diário. - disse ele se levantando. - Foi bem aqui, nessa escrivaninha que todo esse pesadelo começou.
[Bum!]
De repente um barulho de explosão veio do andar inferior. Todos olhamos perplexos em busca de respostas. Ao olhar pela escada não havia nada de estranho lá em baixo. Afinal o que fizera aquele barulho?
[Bum!]
O barulho agora vinha do lado de fora. A casa começou a tremer, como se estivéssemos num terremoto. E então aconteceu. A escada desabou, derrubando nós três. Enquanto ajudava Jacques a se levantar, Memba já estava em pé, procurando respostas. O tremor parecia aumentar.
Um barulho ensurdecedor disparou da área onde ficava a cozinha. Todos os canos estouraram e uma avalanche de água irrompeu pelo corredor, levanto tudo consigo, inclusive a gente.
Do lado de fora, ensopados e confusos, o clima parecia estar pior. O céu esbravejava com relâmpagos e raios a todo momento. E o vento deixava o ar cada vez mais frio.
-Neville!! - berrou Memba. - A história é sua! Faça alguma coisa!!
-Mas como?!
-Pense em algo, seu idiota! Você está escrevendo!!
-Pensar, pensar, pensar... ai droga, não consigo pensar sob pressão!
É sério, nunca fui bom para pensar em situações de perigo. Mas a situação estava ficando tensa demais. A casa começou a despedaçar, os escombros voando em direção ao final da rua. Ainda com medo de olhar, virei a cabeça. Lá estava ele: um enorme cone de vento circular; um tornado.
-CORRAM! - berrei para os dois à frete.
Em poucos segundos estavamos correndo pela rua, sem saber onde ir. O vento parecia querer nos devorar, pois sempre vinha crescendo em nossa direção.
-Jack! Você morava aqui! Precisamos de um lugar abaixo da terra pra se esconder! - disse Memba.
-Mas faz tempo desde que eu saí daqui! Não sei de mais nada!
-Não temos tempo pra isso! - berrei informando que o tornado estava chegando.
-Por aqui!! - disse ele virando para a esquerda.
Um raio caiu bem perto de onde estávamos antes, fazendo o chão rachar e levantar uma nuvem de poeira. Se não saíssemos logo dalí, com certeza iríamos morrer.
-Tinha uma passagem por aqui, eu costumava brincar nesse terreno. - disse ele correndo, procurando pelo buraco. -Droga! Eles devem ter fechado a entrada!
-Tarde demais! - disse Memba apontando para trás onde o tornado vinha frenéticamente em nossa direção.
Então tive a idéia mais absurda de todas. Mas era melhor que ser tragado pelo tornado.
-Tive uma idéia! Venham!!
Sem pensar, todos me seguiram. Na verdade nem eu sabia o que estava fazendo. Mas eu tinha a mente fixa nessa idéia. E não podia falhar. Pelo menos eu torcia para que desse certo.
-Neville! Estamos voltando pra minha casa!
-Sim, é pra lá que vamos!
-Você tá maluco? - berrou Memba enquanto tomava fôlego.
-Confiem em mim!
Logo a cerca do jardim podia ser vista. Era só pular. Mas parecia ser mais fácil falar do que fazer. Mas mesmo assim tentamos. Com certa dificuldade, mas deu certo.
Jack rasgou a camisa enquanto passava, Memba perdeu um dos brincos, que ela dizia serem super valiosos.
-E agora, Neville, essa cerca não vai parar o tornado! - disse Jack.
-Eu sei, temos que entrar ali!
-Ali onde? - indagou Memba.
-Ali! - disse apontando para a luz verde. -Vamos entrar dentro daquela luz!
-VOCÊ É UM IDIOTA?! - berrou ela em desaprovação, mas antes que pudesse terminar puxei seu corpo pra junto do meu, enquando empurrava Jack pra dentro. Em segundos vi uma mescla de azul e verde se misturarem, e meu corpo girar rapidamente. E pra ser sincero, ainda estou girando nesse momento.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 9 - A sala secreta
- Spoiler:
- >>Troca de Narrador<<A partir de agora, as aventuras de Neville serão contadas por mim, o narrador em 3ª pessoa. Eu sou muito mais capacitado e experiente na arte de contar histórias...
-Mentiroso!
-Cala a boca, Neville, eu estou narrando agora.
Como vocês podem ver, ele ainda é tolo e infantil. E podem acreditar que eu sei muito mais coisas que o garoto, então vocês não precisam ficar preocupados em perder algum detalhe. Bem, hora da história!
----------------
NEVILLE SANGRAVA. Estava vivo, porém seu corpo doía muito. Não sabia ao certo o quanto seu corpo estava inteiro, mas sentia o ar encher seus pulmões. Uma luz muito forte emanava no local. O olhos semi-cerrados ainda impediam a visão total do ambiente. Mas numa primeira impressão, parecia uma biblioteca.
Perto dele, Jack murmurava algo, tentando se levantar. Neville procurou algum machucado em seu corpo. Nada. Logo atrás, Memba já estava em pé, e tentava entender o local onde vieram parar. À essa altura, eles se perguntavam se realmente aquilo fora uma boa idéia. Correr do pavoroso tornado agora parecia melhor opção.
Neville escondeu a mão cortada dentro do bolso, afinal apenas ele estava sangrando. E não queria mais nenhum motivo para ser zombado, o que poderia acontecer à qualquer momento, devido à sua imprudência de levar todos para dentro daquele lugar.
-Estão todos bem? - indagou ela se aproximando.
Jack assentiu com a cabeça. Depois de se levantar, Neville encarou-a por alguns segundos antes de falar.
-Eu também estou.
-Ótimo! Por que agora eu vou te matar! - berrou ela indo pra cima de Neville.
-Calma! CALMA! - disse Jack entrando e separando os dois. -Não é hora pra isso! Temos que descobrir onde estamos e como saímos daqui.
Mais calmos e reestabelecidos, eles olharam em volta estudando o local. Não parecia haver paredes e nem teto. Acima deles tudo era negro e esfumaçado. No ambiente, inúmeras estantes repletas de livros, com mais de três metros de altura faziam um labirinto que se perdia na vista.
Neville parou e se aproximou de uma das estantes. Os livros eram todos iguais, porém alguns tinham cores de capas diferentes. Não havia nada escrito na lateral. Lentamente ele retirou um dos livros. Na capa, com letras medievias havia um nome.
-''Marcy Dwane''?!
-Quem é essa? - perguntou Jack se aproximando.
-Eu não sei. Está escrito aqui nesse livro. - respondeu Neville abrindo. Dentro haviam muitas folhas preenchidas com histórias, parecidas com as que eram escritas no diário. -Acho que são registros de histórias antigas.
-Hum... - disse Jack pegando um exemplar de outra estante. -''Kin McBurry''... parece mesmo. E esse nome não me é estranho.
-Eu também já ouvi falar. Uma mulher que eu conheci numa história outro dia, disse que um homem chamado Kin se matou usando o diário, pra não ter mais que escrever. - disse Memba.
-Interessante. Será que tem a gente aqui? - indagou Neville.
-Não sei. E se esses são registros de pessoas que já morreram? - disse Jack.
-Bem, não custa nada tentar...
-Pessoal! - interrompeu Neville. -Aqui tem a data que ela morreu, 22 de março de 1982.
-Bem, acho que devemos procurar uma saída. - disse Memba devolvendo o livro que Jack pegara.
-Verdade. Vamos Neville. - disse Jack.
Neville pegou o livro e guardou nas vestes. Queria entender mais sobre o diário, e aquilo poderia ajudar.
-Devolve isso lá! - disse Jack apontando para a estante.
-Nem... isso aqui parece uma biblioteca... só estou levando emprestado.
Jack continuou insistindo, mas foi vencido pelo cansaço. Neville estava decidido em levar o livro embora, e não houve mais conversas até que eles pararam de caminhar, cerca de vinte minutos depois.
-Droga! Não tem saída. - disse Memba. -O que vamos fazer agora?
-Bem, acho que os livros seguem ordem alfabética. - disse Jack. -Podemos seguir a ordem até o início, daí pode ser que tenha algo lá.
-Boa idéia. - argumentou ela. -Neville, você vai na frente.
-Eu? Porque?
-Por que você nos trouxe pra cá, lembra?
-E você preferia ficar lá em cima, com aquele tornado?
-Ah, quer saber, esquece. - disse ela enfurecida. -Anda logo com isso... bolas, eu já deveria ter voltado... vou perder a festa inteira...
Neville percebeu o sinal de Jack para não continuar a briga e foi à frente, guiando os outros dois em meio aos muitos livros. Volta e meia eles se perdiam, muitos nomes se repetiam e as vezes eles andavam em círculos. Provavelmente na metade do caminho, Memba assumiu a frente, depois de julgar péssimo o senso de direção dele.
As estantes da letra ''A'' já estavam acabando quando, muito cansados, eles resolveram parar.
-Pessoal, vamos parar um pouco... eu... preciso respirar... - disse Memba ofegando.
-Você está bem? - perguntou Neville?
-Sim... só um pouco...cansada.
-Tudo bem, estamos quase no início. Podemos descansar aqui. - argumentou Jack.
Todos se sentaram no chão, Jack e Memba de um lado, e Neville do outro. Ele apalpou as vestes, confirmando a presença do livro que ele “emprestara” minutos antes.
Você pode julgar coincidência ou até mesmo destino, mas havia algo chamando a atenção de Neville, porque ele olhava fixamente para um ponto. Logo abaixo da quinta prateleira, um livro verde estava virado ao contrário. Ele caminhou até a estante e retirou o livro. Na capa, escrito em dourado havia o nome ''Ariana Memba''.
-Seu nome é Ariana?!
Essas palavras pareceram uma afronta. Memba olhou de um jeito estranho para ele.
-Como você sabe disso?!
-Está escrito aqui... - disse ele mostrando o livro. A garota rapidamente se levantou e agarrou o livro das mãos dele.
-Falando nisso, você nunca mencionou o seu primeiro nome, Memba. - disse Jack. -Ariana é um nome legal...
-Não, não é! - interrompeu ela. -Segundo a tradição do meu povo, Ariana é o nome que se dá à uma pessoa amaldiçoada. É um nome que atrai a morte.
-O quê?!
Qual será o mistério por trás do nome amaldiçoado de Ariana Memba? E os três conseguirão sair de dentro daquele lugar estranho? Muitas respostas virão no próximo episódio.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 10 - A história de Memba
- Spoiler:
- Isso mesmo que você ouviu.
-M-mas como alguém pode receber esse... nome? - indagou Neville num tom de incredulidade.
-Bem, é uma história um tanto monótona.
-Não temos opção, não é? Podemos descançar enquando você conta. - disse Jack.
-Está bem, então.
Ela fechou os olhos, buscando na mente os pensamentos que estavam enterrados, que ela não gostava de lembrar...
Chovia muito. Alías chovia o necessário, afinal, a terra seca não via água à muito tempo. Mas isso não era importante. O nascimento de uma nova criança era o que todos esperavam.
O lugar não era apropriado. Não havia uma sala limpa e esterilizada, nem materias próprios e nem profissionais qualificados para realizar o nascimento de uma vida. Mas havia o necessário para isso: a vontade de nascer.
A criança dentro da barriga da jovem relutava e girava, causando fortes dores na mãe, que nada podia fazer. A aldeia dos Hiplotit era uma das mais afastadas do centro comercial no interior da Costa do Marfim, o que impossibilitava chegar à tempo em algum hospital.
Deitada sobre à cama, a jovem de pele morena e cabelos compridos gritava, suando frio e fazendo muita força. Ao seu lado, uma velha senhora, com os cabelos totalmente brancos ajudava no parto.
-Força Padma! Está quase saindo! - disse ela tentando remeter a atenção da jovem para outra coisa, que não fosse a dor.
O céu tenebroso parecia reagir aos rugidos de dor, trovejando e relampejando como num apocalipse fugaz. Alguns do lado de fora do quarto olhavam temerosos para o céu.
Segundo a crença Hiplotit, um nascimento em meio a um temporal significava uma vida atribulada e cheia de sofrimento. Mas no fim, como toda tempestade revela um amanhacer limpo e tranquilo, garantiria um final de vida reconfortante. Crenças são apenas crenças... ou não.
Duas horas haviam se passado, e nem a criança saíra e nem o temporal cedera. Afinal seria um nascimento marcado pela ira dos céus. No quarto mal iluminado estavam apenas a parteira e a jovem, delirando com a dor. E então aconteceu.
No mesmo instante em que um raio brilhante e enérgico rasgou o céu em direção ao solo, um grito estrondoso informou que a criança nascera. Em meio à alegria dos que aguardavam do lado de fora, ao notarem o choro da criança, muitos não perceberam o que estava errado. A jovem Padma não respirava mais.
“E chamarás Ariana, porque nasceu com a morte. E com a morte há de viver todos os dias de sua vida, até que o portador da vida devolva o que lhe foi tirado.”
Dez anos depois do acontecimento, Ariana se sentia excluída. Ninguém ousava ficar muito próximo. O único parente que cuidava dela era sua avó, incumbida de não deixá-la se misturar ao resto da aldeia. E por isso, ela resolveu fugir dali.
Não era apenas o fato de se sentir sozinha que a incomodava. Ser tomada como uma maldição que poderia matar quem se aproximasse era inaceitável.
Perdida e sem ter para onde ir, Ariana era vista pelos cantos das praças da cidade, chorando e pensando nas coisas ruins que lhe aconteceram, e nas que ainda poderiam acontecer.
Por muitas vezes a avó aparecera tentando levá-la de volta. Mas voltar para aquela vida era o mesmo que aceitar a situação. E Ariana não aceitava jamais tudo aquilo. E lutaria de todas as formas para mudar seu destino. Destino... que palavra interessante.
Aos doze anos, Ariana descobriu o que era ter uma família. Arthur Hoshik e sua esposa Mary adotaram a menina, colocando um nome mais promissor: Memba – que quer dizer renascimento. Com certeza aquilo era renascer. A partir daí ela teria uma vida. Bem diferente da sua existência.
O casal era muito amoroso, e acolheu a menina com ternura e sem nenhum preconceito. E até hoje estão vivos.
-Quer dizer que você não mora com seus pais de verdade? - indagou Neville incabulado.
-Bem, os biológicos não... minha mãe, como eu disse morreu no meu nascimento, e nunca ouvi nada a respeito do meu pai. - respondeu a garota serenamente.
-Mas isso não inporta, não é? - emendou Jack ao ver uma ligeira expressão de tristeza. - Seus pais adotivos são muito legais.
-Haha... isso é verdade... o que me lembra que devemos sair logo daqui. - respondeu ela recobrando o espírito.
-Posso perguntar uma coisa? - disse Neville se levantando. -Bem, eu posso chamar você de Ariana?
O olhar morteiro da garota o fez sentir com antecedência a surra que levaria. Jack fez uma expressão de “Que idiota!”.
-Tudo bem. - respondeu ela rindo.
-S-sério? - rebateu ele incrédulo por ainda estar inteiro.
-Sim... esse nome não me afeta mais. Eu sou outra pessoa hoje, independente do nome.
-Ótimo, eu achava o nome Memba muito...
[Pof!]
-Mas não quero piadinhas com nenhum dos meus nomes! - disse ela em pé, olhando o corpo caído de Neville, apalpando o rosto recém socado.
Jack sorriu. Afinal Ariana mostrara ter se tornado uma garota de fibra. E quem sabe uma mulher encantadora.
Enquanto os garotos recomeçaram a andar, em busca da saída, havia um par de olhos amarelos que os observava. Em cada virada, eles rodopiavam no ar, não perdendo eles de vista.
E ao virarem por uma sequência de estantes em ziguezague, ele teve que apertar o passo, para poder seguí-los mais de perto. Ele só não contava já ter sido notado.
-Acham que ele ainda está atrás de nós? - cochichou Neville olhando para trás.
-Isso é óbvio. Se não, pra que nos seguir esse tempo todo? - respondeu Ariana.
-Bem, eu não sei quanto a vocês, mas eu quero sair daqui o quanto antes. - disse Jack também olhando para trás.
-Hei, talvez ele saiba onde fica a saída. - argumentou a garota, levando a mão ao queixo macilento. -Vamos nos separar e pegá-lo de surpresa.
Os dois garotos assentiram e logo à frente se separaram entre as estantes cheias de livros coloridos. A letra “A” estava quase no início, ou seja, eles estavam se aproximando da origem das estantes, onde acreditavam ser a saída. O par de olhos corria alucinadamente, tentando descobrir onde eles estavam. Mas já haviam sumido. Então tudo aconteceu muito rápido.
Os três saltaram ao mesmo tempo em cima do par de olhos. Logo depois ele se desvencilhou de cima das pernas de alguém e correu. Mas Ariana foi mais esperta, arremessando um livro pesado de capa dura nele, que caiu com um estrondo. Estrondo?
Rapidamente, o par de olhos ganhou um corpo. Mas não era um humano. Aliás, ninguém sabia o que era.
Cerca de setenta centímetros, pele verde musgo, orelhas pontudas e compridas como de um coelho, olhos amarelos e saltados e um nariz pequeno e achatado. O pequeno ser estava imolizado pelo peso do livro, e se debatia violentamente.
-Mas que coisa é essa? - perguntou Neville com cara de nojo.
O pequeno monstrinho parou de se mexer e encarou Neville com firmeza.
-“Coisa” é você, seu insignificante! - rebateu ele com desdém.
Os três se olharam confusos. A “Coisa” também falava.
-Quem é você... - continuou Jack. - Ou melhor, o que é você?
-Eu sou Clanc, o duende. Eu me apresentaria a vocês, mas estou preso. - disse ele indicando o livro pressionando metade do corpo.
-U-um d-d-duende? - disseram os três ao mesmo tempo.
-E o que isso tem de anormal? - perguntou o duende indignado. -Aliás os anormais aqui são vocês. Humanos são proibidos de entrar na Biblioteca.
-Aqui é uma biblioteca? - perguntou Jack.
-Não é “biblioteca” é Biblioteca! - repetiu ele demonstrando uma diferença não muito perceptível.
-Bem, não importa se é proibido ou não. Já estamos saindo daqui. - disse Ariana. -Onde é a saída?
-Ahá! Estão perdidos! - disse o duende.
-Isso é óbvio não é?!
-Você não entendeu, minha cara. Vocês ESTÃO PERDIDOS!
-Continuo sem entender. - disse Neville coçando a cabeça.
-Ela nunca deixará vocês saírem. Nunca! Hahahaha!
-Ela?! Ela quem? - perguntou Ariana irritada.
-Sibila Hartchway. - disse o duende com um sorriso amarelado.
-Quem é Sibila Hartchway? - perguntou Jack curioso.
-Sou eu. - disse uma voz feminina grave e ligeiramente rouca.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 11 – Sibila Hartchway
- Spoiler:
De costas e sem olhar, aquela voz passou a imagem de um monstro em forma de gente. Ou pelo menos eles pensavam que era uma pessoa. E na verdade era, só que bem diferente.
A voz saiu um um pequeno corpo de no máximo um metro. Tinha a pele branca e cabelos negros em corte Channel impecávelmente alinhados. Seus olhos eram como cristais de ônix brilhantes e penetrantes. E sua face expremia um olhar fustigante. Pequena mas terrívelmente poderosa.
-Ora, ora, ora! O que temos aqui?! Crianças! - disse ela com a voz rouca.
-Gente esse lugar já está me dando medo... não podemos sair logo daqui? - indagou Neville olhando para os lados.
-Sair? Hahahahaha! - riu a pequena mulher descontroladamente. -Vocês nunca mais irão sair daqui.
-O QUÊ?! - exclamaram os três ao mesmo tempo.
-Eu avisei! - retrucou o duende.
-Cale a boca Clanc! Eu estou falando agora. - disse a mulher tapando a boca dele com uma das mãos. Agora que estava visível, haviam inúmeros anéis em cada dedo.
-Olha, eu não sei quem é você, não sei de onde veio, só sei que já devia estar em casa. Então saia da minha frente! - disse Ariana irritada.
Tudo aconteceu muito rápido. Quando Ariana moveu o pé direito para andar em frente, Sibila deslizou por trás e a agarrou pelo pescoço, fazendo-a perder o equilíbrio e cair.
-M-mas o que?!
-Eu sou a ordem aqui neste lugar, mocinha! SE VOLTAR A ME INTERROMPER VAI VER DO QUE SOU CAPAZ!
-Me solta! - retrucou Ariana forçando o braço da mulher para longe do seu pescoço.
Sibila a largou e voltou ao lugar onde estava. Esticou a mão miúda e começou a tirar o pó das vestes. Ela usava um terninho preto com riscas de giz e um par de sapatos que mais pareciam de criança.
-Apesar de ser uma criança mimada e intrometida, eu gostei de você. - disse ela olhando para Ariana. -Lembra a mim mesma quando estava no colégio.
-Er... com licença, Srta. Hartchway, pode nos dizer como sair daqui? - disse Jack tentando uma abordagem mais sutil.
-Ora, mas que cavalheiro! - respondeu ela juntando as mãos como numa prece. -Mas já disse que não irão mais sair daqui e...
-Hei! Pessoal! Achei uma porta aqui! - disse Neville algumas estantes à frente. O rosto de Sibila se encheu de fúria e ela parecia estar possuída.
-NÃO ENTRE AI SEU CALANGO DAS PROFUNDESAS! - vociferou ela movendo os pezinhos na direção dele.
-Neville! Corre!
O garoto girou a fechadura e a porta abriu. Dentro tudo estava escuro, mas com a mulher em seu encalço, não pensou duas vezes e entrou na sala. Depois que a porta fechou, um estalo revelou que ele estava trancado.
-Esqueçam o amigo de vocês, ele nunca sairá de lá vivo. - disse Sibila em frente a porta trancada.
-O que é aquela sala?! - perguntou Ariana.
-Aquela é a Sala das Almas. Todas as almas desses diários estão presas ali dentro. - respondeu o duende. -Eu disse pra não assustá-los! Eu avisei! Mas não... não escutem o duende, ele é apenas um serviçal.
-Cale a boca Clanc! Ou eu prendo você de novo. -Temos que pensar em numa desculpa para esse problema.
-Temos é que tirá-lo de lá e sairmos daqui! - repetiu Ariana.
-Você é surda? - disse Sibila encarando-a com firmeza. -Não tem como sair desta sala.
-E porque não? Se são almas elas não podem fazer nada! - disse Jack tentando entender a situação.
-Essas almas são livres e sedentas por um corpo. Primeiro elas irão retirar toda a energia vital dele.
Ariana ergueu a sobrancelha desconfiada. Jack se mostrou incrédulo.
-E depois vão devorar o corpo dele, não deixando nem um mísero pedaço de osso.
-Pra mim chega! Venha, Jack, vamos entrar nessa sala.
O ambiente magicamente foi ganhando iluminação. Pequenos pontos de luz verde dançavam no ar. Ar que parecia ter cheiro de chocolate. Neville ficou parado olhando os pontos se moverem para vários lados, fazendo uma coreografia perfeita. Então as luzes começaram a se mover em direção à ele. A sensação era muito boa. O clima estava perfeito. E ele queria ficar ali para sempre.
As luzes farfalhando o levavam para dentro da escuridão. Sua mente estava leve e solta. Não importava para onde estava indo, contanto que aquela sensação nunca parasse. Seu coração, embora não percebesse, estava acelerado, e sua respiração descompassada. Ele estava preso num transe tão atraente e desejável que nem percebia por onde seus pés estavam o levando.
Então aconteceu. Uma sensação esquisita, jamais sentida parecia estar drenando suas forças. O chão estava cada vez mais próximo, as pernas arqueando e perdendo o equilíbrio. A visão,bloqueada pela escuridão, apenas exibia os borrões das luzes verdes, rodeando o corpo indefeso do garoto.
“Neville...”
Ele agora sentia o coração batendo lentamente. A respiração estava difícil. Havia dor.
“Neville...”
A mente estava se desfazendo. Não conseguia mais pensar. Seus membros não respondiam, o ar não queria mais entrar em seus pulmões.
“Olhe pra mim...”
Olhos. Grandes e brilhantes o encaravam em seus pensamentos difusos. Um olhar solitário e que pedia socorro. Uma lágrima caiu. Os olhos estavam desaparecendo...
-ACORDA SEU IDIOTA!
Ele abriu os olhos. Estava de volta na enorme sala cheia de estantes e diários. Deitado no colo de Ariana, oservava todos de baixo, a visão ainda embaçada pela troca de ambiente. Seu corpo todo doía e ele sentia frio. Mas o que mais lhe preocupava eram os olhos que ele vira antes de apagar.
-À q-quanto t-tempo estou desacordado? - indagou ele com dificuldade.
-Alguns minutos. - respondeu Ariana. -Quando encontramos você, estava caído no chão.
-É! Parecia estar tendo um ataque ou coisa do tipo. - complementou Jack.
-Q-que ótimo. - respondeu ele, tentando sentar no chão.
-Vejo que aproveitou bem a festa daquelas almas. - disse Sibila rindo ironicamente. -Mas achei que elas não fossem demorar tanto.
-D-deixa só eu melhorar, vou te dar uma lição! - retrucou ele com um olhar nervoso.
-Há! Estava me esquecendo disso! - disse ela enfiando as mãos miúdas na blusa dele e pegando de volta o diário clandestinamente “recolhido”.
-Hei, isso é...
-Propriedade desta Biblioteca. Você não pode sair com nada daqui.
-Neville, esquece isso, podemos dar um jeito. - advertiu Jack.
-Hum, vocês não queriam ir embora? - recomeçou ela. -Clanc os levará até a saída.
-Eu vou?! - disse o duende sem entender.
-Sim, vai. - terminou ela com severidade, desaparecendo entre as estantes apinhadas de livros.
-“Sim, vai”. - repetiu ele com desdém. -Aquela velha pensa que tenho medo. Acho que sou o único que não tem medo.
-Por favor, nos tire logo daqui, sim! - disse Ariana.
O pequeno ser de pele verde os guiou até a parte de trás da primeira estante. Lá havia uma pequena porta, um pouco maior que um metro de altura. Mas não importava o tamanho da passagem, contando que os levassem para fora daquele lugar.
-Sigam a passagem até o fim. Depois poderão encerrar a história. - disse o duende.
-Ótimo. Com sorte posso chegar à tempo da festa. - disse Ariana tentando forçar um pensamento positivo.
-Até mais, Clanc. - disse Neville passando pela porta.
Lentamente, eles foram desaparecendo da vista. Ao lado da porta, Clanc os observava com um certo ressentimento. Era a primeira vez que humanos tinham entrado na Biblioteca. Ele não sabia se seria castigado por isso, ou se no final das contas aquila visita causaria problemas.
Depois da rotineira turbulência e uma aterrissagem nada agradável, Neville se levantou e se sentou na cama. Quanto tempo havia passado? Calmamente ele massageou a cabeça que ainda doía. Seus pensamentos estavam desorganizados e mil coisas explodiam em sua mente. Mas o mais importante era o que ele segurava nas mãos. Um pequeno diário de capa amarela com letras douradas. Afinal, Sibila não era tão esperta.
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 12 - A história que começou antes do natal
- Spoiler:
- O tempo passou como um jato. Os dias pareciam querer pegar o último trem do dia, e muitos já começavam à acreditar que o sol estava ficando preguiçoso, demorando demais para aparecer e indo dormir mais cedo do que de costume.
E com todo esse tempo, o frio foi ganhando espaço. A neve começara a cair antes mesmo da última folha do outono cair. Londres já não era mais a mesma. As luzes natalinas cobriam as ruas e edifícios. Algumas ruas do centro foram decoradas com renas gigantes e sacos de presentes em cada esquina. Sem contar nas lojas, apinhadas de pessoas, comprando seus presentes e pensando no que ganhariam.
A véspera de natal era um dia eufórico para Neville. Logo de manhã, ele visitaria algumas lojas, enquanto compraria os presentes dos amigos, e isso incluía Jack e Ariana. Claro, comprar algo absurdamente inútil para a irmã e no fim da tarde, tomar um delicioso Chocolate Fumegante na Sweet Forms, um famoso pub juvenil, o melhor espaço para se estar em um dia gelado como aquele.
-Já comprou tudo o que precisa, querido? - perguntou a Sra. Oliver.
-Sim, mãe. Vou até o Sweet Forms encontrar um pessoal, volto a tempo pro jantar. - disse ele se afastando e atravessando a rua.
-Certo, mas não volte muito tarde.
-Tudo bem, mãe, eu sei me cuidar. - gritou ele já na metade do quarteirão.
Neville não poderia mesmo ficar até tarde na rua. A meteorologia previra uma nevasca a noite e se ele demorasse muito para voltar, poderia ficar preso na neve antes de chegar em casa. E isso ele não queria. Claro, com todas aquelas comidas deliciosas esperando por ele, e todos os presentes que poderia abrir no dia seguinte, essa hipótese nem passava pela mente dele.
O Sweet Forms estava lotado. Dentro, o cheiro de café, chocolate e doces se misturava ao vento frio da rua, que entrava constantemente pela porta, que nunca parava fechada. Era um ambiente aconchegante. O chão todo coberto de um carpete felpudo, as paredes ladeadas de madeira, uma lareira grande nos fundos. Não haviam mesas e cadeiras tradicionais. Ao invés disso, algumas mesinhas pequenas estavam dispostas pelo salão, rodeadas de pufes e almofadas. No lado direito, mais para o fundo do local, ficava a cozinha e o balcão, onde alguns banquinhos de cerejeira já estavam parcialmente ocupados.
-Um Chocolate Fumegante, por favor. - disse ele se aproximando do balcão. -Pra viagem. Isso aqui está muito cheio.
-Dois euros. - disse o atendente, entregando um copo grande. Dele saia uma fumaça doce e apetitosa. - Obrigado e volte sempre que quiser. - retribuiu ele após receber o dinheiro.
A luz do sol já estava se esvaindo. O frio aumentara e os primeiros flocos de neve já ameaçavam cair. Ele abriu a embalagem, preparando para dar um grande gole naquela bebida quente e revigorante quando uma voz surgiu por trás dele.
-Você comprou coisas de mais, não acha?
Neville se virou e encarou Jack com espanto. Ele era a pessoa que ele menos esperava ver naquele momento.
-O que é isso que você está bebendo? - disse outra voz, agora feminina.
-Por que será que quando vejo o Jack, você está sempre junto?
-Sei lá, acho que é coincidência. - respondeu Ariana, bebendo uma grande porção do copo. -Hum, que delícia! Me diz o que é isso!
-Leite, chocolate belga, canela, chantilly e açúcar mascavo. Chamamos de Chocolate Fumegante.
-Vou querer um desses na volta! - disse ela tomando a última porção.
-Volta?! Volta de que? - perguntou ele temendo a resposta.
-Hoje é dia de história. Minha, pra ser mais exato. - respondeu Jack.
-E VOCÊ NÃO PODIA TER ESPERADO ATÉ DEPOIS DE AMANHÃ? HOJE É VÉSPERA DE NATAL!!
-Acalme-se, Neville, a minha história será curta. Eu não quero prender vocês e estragar suas festas. -respondeu ele.
-Ah, Jack, não se culpe por isso. Você vai passar o natal todo sozinho. Ficar um tempo com você é o mínimo que podemos fazer. - disse Ariana jogando o copo vazio nos braços de Neville. -Você precisa ser mais sutil, Neville.
-Eu sutil?! Acabou de ser indelicada com ele, lembrando que terá de passar o natal sozinho. - contrapôs ele.
-Tudo bem, gente, eu não ligo muito pra isso mesmo. Mas vamos pra história, não quero que isso demore demais.
Depois da conhecida sensação e dos rodopios no ar, os três caíram no chão. Felizmente, o local era fofo o suficiente para amenizar a dor. Estava quente, o que fez Neville e os outros tirarem os casacos e cachecóis.
-Que lugar é este? - indagou Neville tirando areia das vestes.
-Acho que é uma praia. Eu sempre quis visitar uma. - respondeu Jack limpando o rosto.
-Ah, que droga! Meu cabelo...
Ariana exibia um penteado incomum. Seus cabelos pretos lisos estavam indomados, arrepiados, como uma juba de...
-E vejam neste lado, a incrível mulher com juba de leão! - zombou Neville, apontando para a amiga.
-Você quer morrer antes do tempo?! - vociferou ela em resposta.
-Quietos vocês dois, acho que não teremos tempo pra isso. - advertiu Jack, olhando para o alto.
Os outros dois se viraram e encararam uma visão interessante. Um grande navio dourado estava se aproximando... pelo ar.
-Mas... o que é isso?! - exclamaram Neville e Ariana juntos.
-Este é Magnólia, o navio de Ouro. - respondeu Jack.
O gigantesco navio foi se aproximando, e descendo em direção à eles. Logo o casco reluzente tocou na areia da praia. E por alguns minutos nada aconteceu, apenas se ouvia o barulho das ondas e algumas gaivotas passeando pelo céu azul com poucas nuvens.
Então, do interior, uma enorme plataforma foi deslizando de alto à baixo, aterrissando onde os meninos estavam. Era um sinal para que eles subissem.
-É seguro entrar nisso ai? - perguntou Neville desconfiado.
-Tudo bem, pessoal, podem subir. - disse Jack já em cima da plataforma.
-Bem, a história é sua. - disse Ariana subindo também.
Um pouco relutante, Neville subiu. E então a plataforma voltou a se mover, agora para cima. Logo todos já estavam à bordo. O convés superior era como o casco, todo feito de ouro. Não havia ninguém no local. Neville começou a pensar se haveriam problemas, como na história anterior. Mas para sua surpresa, algo aparentemente familiar aconteceu.
Uma porta grande do lado direito do navio se abriu, e do interior saiu um homem grande, trajando vestes típicas para a ocasião. E ele tinha um tapa olho.
-Que visita magnífica! - exclamou ele com uma voz rouca.
-Capitão Murdoque! - respondeu Jack animado. Quanto tempo!!
Re: As Crônicas de Neville [Aventura]
Episódio 13 – Magnólia
- Spoiler:
- Apesar de não haver qualquer tipo de água por perto, o cheiro de mar era evidente. Coisa que eles, à essa altura dos acontecimentos nem se importavam. Afinal, quase tudo o que acontecia nessas histórias era absurdo ou contestava a realidade.
O interior do grandioso navio era como o casco, coberto de ouro reluzente. No meio havia um mastro, que Neville cerrou os olhos para não ficar cego com o brilho das pedras incrustradas em cada secção do mesmo. Tudo era magnífico, fazendo jus ao nome. Mas o que mais chamava a atenção era o capitão.
Alvares Murdoque tinha uma expressão bondosa no rosto. Trajava um habitual conjunto de vestes azuis adornadas de botões e plaquinhas de metal dourado. Seu chapéu também azul e cravejado de pedras preciosas ocultava parte da cabeça já compelida de longos cabelos brancos pela idade, que se misturavam à uma barba grisalha e escorrida. Olhos azuis como o céu e uma voz grave, mas cativante.
-O que traz visitantes ao meu simplório navio? Outra história de rotina? – perguntou ele animado.
-Sim, estamos apenas de passagem. – respondeu Jack se afastando da entrada do navio, que agora cobria-se magicamente com uma grade de metal.
-Então eu acho que devo mostrar à vocês onde guardo meu tesouro! – disse ele em meio a risadas. –É uma viagem curta, mas indesquecível.
-Ah, quanto mais curta melhor! – disse Ariana rapidamente.
-Sim, temos um... compromisso hoje a noite. – completou Neville.
-Hum... entendo... que dia é hoje? O feriado de páscoa? – indagou ele se aproximando dos meninos. Notava-se que ele mancava de uma das pernas.
-Hoje é véspera de natal, capitão. – respondeu Jack.
-Hohoho! Natal... à quanto tempo não sei o que é um natal. – disse o capitão com um olhar ao relento.
-Hei! Minha companhia é tão ruim assim? – indagou Jack com uma cara feia.
-Claro que não, velho amigo. Eu estava me referindo ao tempo em que estava vivo, e podia comemorar o natal com a família. – respondeu o capitão dando um tapinha em suas costas.
-Não entendi...
-Eu sempre passo o natal aqui, desde que... morri. – respondeu Jack. –Não tenho para onde ir, lembra.
-Bem, você pode ficar na minha casa agora, se quiser... temos sempre bastante comida, e eu iria gostar de ter alguém para conversar. – disse Neville sorrindo.
-O convite é muito tentador, mas eu não posso aparecer com uma forma corpórea, Neville. Isso... é o meu... castigo...
-Que castigo?!
-Muito bem, chega de conversa fiada! Vamos partir!! – disse o capitão com entusiasmo. –Tripulação, preparar!
Sem dúvida essa foi a coisa mais estranha desde o duende na biblioteca. Cerca de vinte homens, se é que pode-se chamar aquilo de homens, vinham subindo ao convés pelas escadas de acesso, espalhadas por todo o navio. Tinham não mais que um metro e usavam todas as mesmas roupas: uma calça e uma camisa brancas e por cima um suéter listrado de azul e branco. Não tinham orelhas e os olhos miúdos davam a impressão de que não viam nada. Mas eles vinham todos em grupo, sincronizados e perfeitamente coordenados.
-Mas que diabos são essas coisas? – perguntou Ariana.
-Wakas. – respondeu Jack. -São seres aquáticos domesticados. Eles não ouvem nada, mas conseguem captar as vibrações e com isso interpretar o que se passa ao redor, quando não estão na água.
-Incrível! – exclamou Neville.
-Eca! Olha só a pele deles... parece verde! – disse Ariana com cara de nojo.
-Sim, eles ficam verdes quando são expostos ao sol. É por causa do musgo. – retificou Jack. –Mas isso não é tudo.
Todos os wakas se reuniram na frente do capitão, que fez um sinal com as mãos. Então o espetáculo começou.
Fazendo piruetas e rodopios, eles começaram a se movimentar, como se fosse uma dança sincronizada. Os passos eram perfeitos. E no meio dessa coreografia, começou a cantoria.
Wa wa wa wa Waka Waka we
Devagar, vamos lá, o show vai começar
Entra já, sem cair, já vamos partir
O sol está a brilhar, cheio de emoção
Onde está, ó senhor, nossa inspiração?
Está no céu? Está no mar?
Onde saber, sem procurar?
Fazer pra ser sem trabalhar?
Se é pra fazer, tem de encontrar!
Waka Waka
Estamos nós aqui!
No vasto céu a navegar!
No azul brilhante à galopar!
No mar errante sem falhar...
Onde está a inspiração?!
Dentro do coração!
A voz deles deixaria qualquer tenor afobado, por mais incrível que isso possa parecer. E na medida que cantavam, iam seguindo por todo o convés, fazendo rodopios e acrobacias diversas. E pareciam gostar muito do que faziam. E, antes que a música ficasse enjoativa, eles formaram uma fila, de dois em dois, cada um pegando um remo dourado, e se dirigindo para as beiradas do navio. E assim, ganharam movimento, e o Magnólia finalmente navegava pelo céu.
“O que é isso que eu estou sentindo? É estranho.”
“O que é estranho?”
“Essa... sensação. Não sei explicar.”
“Talvez ela saiba.”
“Sim, talvez...”
Com o balançar do navio, Neville começou a enjoar. Ele nunca estivera num barco antes, e nem sabia quais seriam suas reações. Bem, uma ele já estava vivenciando.
Para evitar uma cena da qual ele se arrependeria muito depois, resolveu debruçarsse na encosta do navio e por alguns minutos observou seu reflexo na água, um tanto difuso pela velocidade. Mas espere um minuto. Água?
-Hei! De onde veio essa água? Não estávamos nas nuvens?!
-Sinceramente, Neville, as vezes acho que você tem problemas de memória. - disse Ariana. -Já se esqueceu que nada aqui faz sentido?
-E eu sou obrigado a aceitar isso? - retrucou ele.
-Se quiser continuar vivo...
-Ora que danem essas coisas. Eu já estou cansado de ter que vir aqui. Eu perdi praticamente metade do ano estando nesses lugares. Pra mim chega!
-E vai aonde? - disse Ariana com desdém. -Você, assim como todos já deve ter tentado se livrar do diário, mas ele sempre reaparece atrás de você.
-Eu... eu vou perguntar à aquela nanica da biblioteca como me livrar desse diário.
-Hahaha! - riu ela. -A maresia deve ter afetado seu cérebro ainda mais. Não podemos voltar lá.
-Não me interessa o que você pensa, se você quer ficar nessa vida de vai e vem, problema seu e...
Ele parou abruptamente. Seus olhos avistavam na linha do horizonte um outro navio se aproximando. Farfalhando com o vento, uma bandeira negra com uma caveira parecia intimidar o mar que revidava com ondas mais fortes.
-Essa não! - exclamou o capitão levando a mão aos olhos para aprimorar a vista.
-O que foi, senhor? - perguntou Ariana.
-Piratas.
-O quê? - replicou ela incrédula.
-Parece que nossa viagem não será nada tranquila. - advertiu ele ajeitando o chapéu. -Que seja. À tempos que eu não tinha uma diversão decente! Wakas! Preparar os canhões!!
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